sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Pra que serve o Twitter?

Pra que serve o Twitter?

Não tenho o dom das palavras de um jornalista, muito menos o poder de argumentação de um advogado. Como engenheiro, me resta recorrer à ciência exata para demonstrar o quanto algumas palavras mal argumentadas podem contrariar qualquer lógica.

Um portal de notícias publicou uma matéria criticando o Gerente de Imprensa de um órgão público de Divinópolis por usar o Twitter no horário de trabalho com mensagens alheias às suas funções.

Não entrarei nas questões éticas da matéria, onde o principal citado não foi procurado para se defender antes da publicação. Prefiro tratar do tema questionado pelo autor.

Dividirei o questionamento do portal em duas partes. Primeiramente vou me concentrar na questão do uso da rede social Twitter pelo funcionário que trabalha na comunicação do órgão público. Em seguida comento sobre os tuites alheios à sua função.

Desconheço o perfil de cargo do servidor questionado pelo portal, porém é do conhecimento de todos – ou pelo menos se espera que seja – que as principais atribuições de um gerente de imprensa estejam relacionadas a jornalismo e comunicação. Logo, qual a importância do Twitter pros jornalistas e comunicadores?

Para responder essa pergunta, peço licença ao recorrer às palavras do editor chefe do The Guardian, resumidas de forma sucinta por Alexandre Weber. Alan Rusbridger elegeu 15 razões que tornam o Twitter uma ferramenta fundamental ao jornalismo e comunicação. Vou listar apenas as que estão diretamente relacionadas ao tema deste texto:

2. É onde as coisas acontecem primeiro - As chances dos leitores saberem de uma notícia primeiro no Twitter é grande, isso porque o compartilhamento, a filtragem ocorre de forma colaborativa e por milhares de pessoas.

3. É um motor de busca, rival do Google - Em alguns aspectos é melhor utilizar o Twitter para descobrir as coisas do que o Google, isso porque o Google é baseado em algoritimos e o Twitter nas pessoas.

5. É uma grande ferramenta de comunicação - A sabedoria da multidão pode ajudar os jornalistas no processo de elaboração de suas materias. "Eles sabem mais do que nós", diz.

8. Diversidade - O Twitter dá "voz" a qualquer pessoa, enquanto a mídia tradicional a poucas.

11. A valoração de notícias é diferente - As escolhas dos jornalistas nem sempre refletem o interesse do público, e este, a depender da sua movimentação no Twitter pode pautar o mainstream midiático ou demandar dos jornalistas mais dedicação a determinado assunto.

12. Alarga a atenção - O Twitter não é apenas um fluxo efêmero de informação. Ao usuário escolher uma determinada hashtag, por exemplo, indica aos jornais a escassez de informação que possuem sobre determinado tema.

14.Muda a noção de autoridade - Os usuários "aceitam" informações não apenas das autoridades - nós, os jornalistas - mas, sobretudo, daqueles que elas julgam confiavéis e importantes para elas.

15. É um agente de mudança - O Twitter é uma síntese de como a mídia colaborativa mudou as rotinas das empresas e a relação com o público. "Fechar os olhos para essa 'mídia livre' é um erro muito grave", finaliza.

Voltei. O editor chefe do The Guardian foi cirúrgico em suas palavras. Rusbridger descreveu a importância do Twitter para o jornalismo contemporâneo, sobretudo para uma cidade média como Divinópolis, cujos principais acontecimentos estão ausentes dos noticiários da Grande Mídia.

Portanto, aos setores de comunicação e jornalismo de empresas privadas e instituições públicas, vou sugerir uma ferramenta digna de uma classificação Lean Office pelos adeptos do Toyotismo. Sugiro que estimulem seus funcionários a permanecer antenados ao Twitter, de forma a otimizar a busca e filtrar os acontecimentos mais importantes da cidade. Enxergo um aumento de eficiência dos setores comunicativos ao adotar essa sugestão. Jornalista que usa o Twitter é jornalista Lean.

Voltemos à principal polêmica da matéria supracitada, que está relacionada aos tuites alheios à função do servidor e merece uma análise de ciência exata antes de discutir o mérito da eficiência do trabalho do funcionário.

Tomando a hipótese de que um servidor tuite 10 mensagens por dia, com uma média de 120 caracteres por mensagem, a uma velocidade de 4 caracteres por segundo, temos 300 segundos alocados à digitação. Como se trata de um funcionário da comunicação que, na opinião deste que vos escreve, deve sim permanecer antenado ao Twitter durante o expediente, esta simples recorrência à ferramenta algébrica mostra que o funcionário perderia 5 minutos por dia distribuindo suas tuitadas alheias.

Condenar este tipo de comportamento durante o expediente é semelhante a criticar ações comuns em qualquer ambiente de trabalho, tais como telefonar para a filha, perguntar se o colega vai ao jogo do Galo no fim de semana, conversar informalmente enquanto toma um cafezinho, enviar uma mensagem de texto – que aloca um tempo muito maior - para a esposa ou responder um e-mail rápido de um colega da faculdade.

Desde que, a eficiência do trabalhador não seja afetada, não há motivos para condenar qualquer tipo de comportamento breve e informal de colaboradores de qualquer empresa. Alem disso, pelas informações que li no Twitter (Salve o Twitter e o direito de resposta), o comunicador criticado na matéria, divulgou 2167 releases e cerca de 200 fotos em apenas 453 dias na função que exerce no órgão público.

Dessa forma, proponho um desafio ao autor da matéria que condena os tuites alheios às funções. Que nos próximos anos de trabalho, ele abdique de qualquer comunicação informal alheia a sua função. Vamos proibir o cafezinho!!!

Sidney Braga

Engenheiro Eletricista e Mestrando em Engª Mecânica